“Se queres ser universal, começa por cantar a tua aldeia”. O conselho é do escritor russo Leon Tolstói e, embora envolva um aparente contrassenso, torna-se facilmente compreensível se levarmos em conta que as nossas origens são algo que diz respeito a todos os seres humanos, sem exceção. De fato, a ligação ao nosso “cantinho primeiro no mundo” resgata relações únicas com a nossa identidade, cultura e valores próprios – uma experiência universal, pois todos viemos de algum lugar ou possuímos uma relação especial com algum local específico.

 

Podemos, então, atualizar a frase de Tolstói para dizer: “se queres ser universal, começa por conhecer a tua aldeia”. É o que propomos numa série de posts que a Mateando irá dedicar a lugares recônditos do Rio Grande do Sul.

 

Exploramos a bela região de Campos de Cima da Serra, uma das riquezas do nosso estado. Faremos uma viagem por algumas das principais cidades que integram a região – Bom Jesus, Cambará do Sul, Campestre da Serra, Esmeralda, Ipê, Jaquirana, Lagoa Vermelha, Monte Alegre dos Campos, Muitos Capões, Pinhal da Serra, São Francisco de Paula, São José dos Ausentes e Vacaria.

 

No post de hoje, mostramos um pouco da história, das atrações e das belezas de Campos de Cima da Serra. Conheça ainda dicas de visitação para desfrutar do que de melhor a região tem para oferecer.

 

Localização

Comecemos por alguns dados objetos de contextualização geográfica. Campos de Cima da Serra, que também é conhecida como “Campos de Vacaria”, está localizada a 200 km da capital, no extremo nordeste do Rio Grande do Sul, bem ali na divisa com Santa Catarina. A região ocupa uma área total é de 21.033 km² – onde cabem cerca de 42 vezes a cidade de Porto Alegre. Julho é o mês mais frio e janeiro é o mês mais quente, sendo que a temperatura média mensal varia de 11,4ºC a 22,1ºC.

 

As paisagens de Campos de Cima da Serra tornam a região uma das mais belas do estado, ideal para o ecoturismo. Vamos conhecer, a seguir, algumas das cidades que a integram e dicas do que explorar em cada uma dessas localidades.

 

Bom Jesus

Fundada em 1878, a cidade de cerca de 11 mil habitantes possui como pontos turísticos a Cachoeira da Usina e a Rota das Cascatas, perfeitos para quem gosta de natureza e caminhadas ao ar livre com cenários de impacto e beleza.

 

Campestre da Serra 

Neste município de menos de 4 mil habitantes, está localizada a Ponte do Korff, patrimônio histórico do Rio Grande desde 2006. Essa ponte metálica, inaugurada no ano de 1907, foi construída com assoalho de madeira e pilares de pedra, feitos com rebites, ou seja, sem parafusos. A ponte era usada por tropeiros em suas viagens e, portanto, representa um período importante da história local.

 

Esmeralda

Para além das paisagens naturais, o Memorial José Mendes é um dos atrativos da cidade. O museu, localizado em um prédio construído na forma de um violão, foi inaugurado em 2004 e conta a trajetória de José Mendes, cantor, violonista e compositor de música regional gaúcha.

 

Ipê

Hoje Capital Nacional da Agricultura Ecológica, Ipê tem uma história que remonta ao final do século XIX, com a passagem de imigrantes lusos e tropeiros pelo município. Região extremamente rica em cachoeiras, grutas e outras belezas naturais, é ideal para quem gosta de aventuras, rappel, escaladas e passeios ao ar livre.

 

Jaquirana

O Morro do Cristo é um dos atrativos da cidade, sendo o local que serviu de abrigo subterrâneo utilizado pelos revolucionários de 1923. O famoso Passo do S é a travessia do rio Tainhas, com trilha que incluiu um belo jardim de bromélias e outras espécies de plantas.

 

Lagoa Vermelha

Com cerca de 29 mil habitantes, Lagoa Vermelha está situado em uma região privilegiada, com belas paisagens naturais que são palco ideal para caminhadas, trilhas de bicicleta e cavalgadas. O parque da Lagoa, que deu nome ao município, é um dos destaques.

 

Monte Alegre dos Campos

A cada dois anos, o município realiza a Festa Municipal da Uva, de projeção nacional. O Penhasco dos Macacos Brancos um espaço ecológico com ampla área natural, trilhas, quedas d’água, penhascos, fauna e flora típica da região, além de cavernas e grutas.

 

Muitos Capões

Pequeno município que abriga a reserva ecológica de Aracuri-Esmeralda. Com uma área de 277 há, a reserva protege espécies ameaçadas de extinção como o papagaio-charão e a gralha azul e é apresenta uma flora extremamente rica, com espécies típicas da região.

 

Pinhal da Serra

Município rico em belezas naturais, ideal para quem aprecia cascatas e trilhas ecológicas. Destacam-se o Parque Arqueológico e a Usina Hidrelétrica Barra Grande. Anualmente, há campeonatos de tiro de laço que atrem laçadores, apreciadores e visitantes. Em setembro, a cidade se põe em festa para comemorar a Semana Farroupilha.

 

São Francisco de Paula

Ideal para quem deseja curtir a Serra Gaúcha, mas quer fugir da obviedade. A Trilha das Oito Cachoeiras e o Parque das Cascatas são os destaques. Na região central, é possível comprar artigo de couro, especialidade da região.

 

São José dos Ausentes

Conhecida como a cidade mais fria do Rio Grande, nela fica o ponto mais alto do estado, o Pico Monte Negro. Oito cânions, rios e cachoeiras compõem um cenário de grande beleza cênica.

 

Vacaria

Maior produtor nacional de maçã, no município acontece o maior evento tradicionalista da América Latina, o Rodeio Crioulo Internacional de Vacaria. As paisagens naturais, espalhadas por fazendas e parques, são destaques da região. Há ainda o Museu Municipal, que apresenta mais de 600 peças representativas da cultura e da tradição da região.

 

Aparados da Serra: os cânions gaúchos

Não à toa conhecida como a “Terra dos Cânions”, a cidade de Cambara do Sul é o ponto de referência para uma extensa cadeia de cerca de 250 km de bordas, com dezenas de cânions que se estendem até Santa Catarina, perfazendo o maior conjunto de formações do gênero de toda a América do Sul.

 

Essas formações recebem o nome de Aparados da Serra e proporcionam ao viajante uma experiência incrível, em meio a um cenário monumental e impactante. Fendas profundas, planícies elevadas, cachoeiras e paredões verticais de até 900 metros, formações de pura rocha basáltica com mais de 100 milhões de anos, tudo recortado pelas águas calmas dos rios: Aparados é de cortar a respiração.

 

Para os amantes da aventura, sugerimos duas trilhas na região, uma fácil e outra mais difícil:

 

Trilha do Vértice: Com baixo grau de dificuldade e cerca de 6 km de extensão (contando ida e volta), esta trilha é perfeita para iniciantes que querem conhecer a região e desfrutar de belas paisagens, mas ainda não têm fôlego para percursos maiores. No caminho, predomina a mata de araucária e há também mirantes em diferentes pontos de observação do cânion. A paisagem é de tirar o fôlego.

 

Trilha do Rio do Boi: Com alto grau de dificuldade, fica a 44 km de Cambará do Sul, dentro no Parque Nacional Aparados da Serra, mais precisamente no Cânion Itaimbezinho. São cerca de 10 km de extensão. A caminhada começa em área plana e às margens do rio e vai ficando mais sinuosa e difícil, com travessias pelas águas. O viajante se imbrica na mata e, em certas alturas, fica rodeado por com paredões rochosos com até 700 metros de altura. O visual incrível compensa todo o esforço.

 

Para percorrer as estradas de chão que ligam os parques de Aparados da Serra, aconselha-se o uso de veículos de terceiros, como os transfers de agências especializadas. Isso por que as estradas são bastante acidentadas e repletas de buracos e não apropriadas para veículos de asfalto.

 

Tradição e história

Além das paisagens incríveis e do solo fértil, Campos de Cima da Serra é uma região com uma história e uma cultura muito ricas. Os primeiros habitantes foram os índios, que deixaram vestígios em casas subterrâneas e em objetos encontrados em escavações. Ainda assim, hoje predomina a cultura dos tropeiros, gaúchos que atravessavam o país comercializando animais e produtos.

 

Em Campos de Cima da Serra, os corredores por onde passavam as tropas de mulas desses viajantes estão sendo transformados em rotas para o turismo. As construções em estilo colonial português, feitas em madeira, e os extensos mangueirões de pedras que cortam campos são testemunhos dessa herança.

 

Na culinária, o viajante desfruta de comidas campeiras, com o pinhão, o charque, a abóbora, a mandioca, o churrasco e sobremesas de origem portuguesa, como o doce de gila.

 

Onde ficar

A hospedagem em Campos de Cima da Serra depende muito da cidade onde o viajante queira assentar pouso. Além dos tradicionais hotéis, há chalés e pousadas dentro de fazendas, onde é possível se sentir em casa, desfrutando de comida caseira e de um chimarrão com pinhão cozido depois de um dia de trilhas.

 

A Pousada do Engenho, em São Francisco de Paula, é especializada no atendimento a casais. Ao todo, oferece 14 cabanas, além de uma casa na árvore com um minirrestaurante, construído sobre uma enorme canela preta, onde apenas um casal é atendido por vez. Há também um spa e passeios e turismo ecológico organizados pelo estabelecimento. 

 

Viajar por Campos de Cima da Serra é conhecer parte da essência do povo rio-grandense e percorrer paisagens únicas e ainda pouco exploradas.  Quem visita sente-se logo em casa e descobre como a simples combinação da natureza e da hospitalidade humana podem tornar uma região inteira tão inesquecível.

 

Bom, por hoje, é tudo, mas a nossa série sobre as belezas rio-grandenses está só começando. Se você procura por algo diferente para uma aventura de fim de semana ou mesmo se vem de longe e quer conhecer regiões ainda pouco exploradas, mas dotadas de uma riqueza cênica e cultural únicas, esta série é para você. Para não querer nada, é só seguir também as nossas redes sociais – estamos no Facebook e no Instagram. Até a próxima!

Roder Cypriano

Mateando