Reza a lenda que a erva-mate teria sido dada de presente a um velho guerreiro guarani, que, com a saúde debilitada, dependia dos cuidados da filha para sobreviver, impedindo-a, assim, de se casar. O presenteador teria sido um mensageiro de Tupã, que atendeu aos pedidos do velho de voltar a ter as forças da juventude.

 

Essa história faz referência a uma das propriedades mais importantes da erva-mate: o seu papel de combate ao envelhecimento precoce e de estimulante da nossa disposição física e mental. E não tem nada de mito ou lenda nessa asserção – trata-se de propriedades comprovadas cientificamente! De acordo com pesquisas desenvolvidas pela Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, o chá de mate é um dos alimentos mais poderosos do mundo.

 

No post de hoje, nós da Mateando fazemos uma singela homenagem a esta planta tão querida em plagas sulistas, que não à toa é por aqui conhecida como a “joia verde da América Latina”. Quais as principais características, formas de consumo, curiosidades e benefícios da erva-mate? Continue a leitura e conheça o essencial sobre esta bebida que faz parte da nossa vida!

 

O que é a erva-mate?

A erva-mate vem de uma planta com caule cinza, folhas ovais e frutos pequenos de coloração verde ou vermelho-arroxeado. De nome científico é Ilex paraguariensis, ela se desenvolve naturalmente no sul do Brasil, no norte da Argentina e no leste do Paraguai e foi descrita pela primeira vez em 1820 por um botânico francês.

 

Essa planta não é consumida em seu estado natural, podendo ser comprada seca ou em formato de gotas. Ela deve passar por algumas etapas de processamento antes de chegar ao consumidor. Tais etapas envolvem o branqueamento, secagem e maturação das folhas.

 

Qual a origem do consumo da erva-mate?

A origem do consumo desta planta remonta ao séc. XVI e aos índios guarani da Argentina. Foram eles que a apresentam aos colonizadores espanhóis.

 

A palavra “mate” vem precisamente de uma palavra indígena que significa “cuia” ou “cabaça”. O nome era utilizado para denominar o recipiente onde se tomava a da infusão de folhas de erva-mate. Por extensão, passou também a designar o seu conteúdo um pouco por toda a América do Sul.

 

No Brasil, os colonizadores jesuítas foram os principais promotores do cultivo comercial do mate. A planta chegou a ser proibida no sul do país, sendo tachada de “erva do diabo”, mas aos poucos o uso passou a ser incentivado como forma de afastar os índios das bebidas alcoólicas.

 

Essa mistura cultural entre os povos nativos da América do Sul e os colonizadores europeus resultou em uma tradição local, que se difundiu pelo continente, em países como Paraguai, Argentina, Uruguai, Bolívia e Chile.

 

Quais as principais formas de preparo da erva-mate?

diferentes formas de consumir a erva-mate como bebida:

– Mate ou chimarrão é a bebida produzida com infusão em água quente, muito popular não só no sul do Brasil, mas também na Argentina e no Uruguai.

– Tererê é a bebida produzida com água fria, mais consumida no Paraguai e no centro-oeste brasileiro.

– Chá mate é o chá obtido a partir das folhas tostadas da erva-mate. É consumido em infusão ou como bebida instantânea gelada.

 

Qual a composição química da erva-mate?

Rica em nutrientes, minerais e vitaminas, a erva-mate inclui os seguintes compostos:

– xantinas, substâncias que atuam como estimulantes e incluem a cafeína e a teobromina, são encontrados no café e no chocolate;

– derivados de cafeoil, principais antioxidantes da erva-mate;

– polifenóis: outro grande grupo de antioxidantes;

– saponinas: são eles que dão aquele gostinho amargo à bebida; têm propriedades anti-inflamatórias, ajudam a reduzir o colesterol e emulsificante.

 

Quais os benefícios da erva-mate?

Como dissemos de início, a erva-mate é um dos alimentos mais extraordinários que conhecemos. Os seus benefícios são inúmeros e fica até difícil fazer um resumo, mas a gente tentou. Dá uma olhada nesta compilação:

 

– Combate o envelhecimento precoce

A erva-mate auxilia na prevenção do envelhecimento precoce, como já dissemos. Isso se dá porque as substâncias antioxidantes presentes nesta planta combatem os radicais livres, que são os grandes responsáveis por nos envelhecer. A quantidade de antioxidantes em questão é inclusive maior do que a do chá-verde, um famosinho na prevenção do envelhecimento.

Chimarrão é, por isso, um inimigo das rugas e linhas de expressão.

 

– Estimula a atividade mental, diminui o cansaço físico e mental e aumenta a concentração

Isso se deve, basicamente, à presença de cafeína. Contudo, os efeitos colaterais desta bebida são muito menores do que os do café, porque a concentração é menor – para você ter uma ideia, em 100 ml de chimarrão, a quantidade de cafeína é cerca de 13 vezes menor que na mesma dose de café, conforme você confere aqui.

 

– Acelera o metabolismo e diminui o colesterol e triglicérides

A erva-mate possui propriedades comprovadas de combate à constipação intestinal, ou seja, ao mau funcionamento do intestino. Por isso é que tomar um bom chimas depois de um churrasco pesado dá aquela sensação de alívio e de uma digestão mais agradável.

 

E sabe as saposinas que referimos na pergunta anterior? Então, presentes na erva-mate, elas ajudam a reduzir a concentração plasmática do colesterol ruim em até 12% (segundo este estudo), diminuindo a absorção intestinal de gorduras e aumentando o poder de excreção delas pelo organismo, devido a uma ação emulsificante.

 

Estudos já mostraram que a erva-mate pode também auxiliar na redução do peso corporal e de gordura abdominal – mas, claro, esse consumo deve estar associado a uma dieta saudável e a exercícios físicos. Em um estudo de 2014, os participantes que ingeriram erva-mate moída queimaram 24% mais gordura durante exercícios de intensidade moderada.

 

– Efeito anti-inflamatório

As saponinas têm propriedades anti-inflamatórias, como já dissemos. Isso ajuda a podem fortalecer o sistema imunológico e a manter-nos mais saudáveis.

Além disso, a erva-mate fornece quantidades de vitamina C, vitamina E, selênio e zinco.

 

– Prevenção de doenças

Esta pesquisa da Universidade de São Paulo concluiu que a erva-mate é uma excelente fonte de compostos bioativos, que pode auxiliar na prevenção de doenças cardiovasculares e doenças crônicas, como o câncer.

 

– Efeito diurético

O consumo de erva-mate estimula a eliminação de fluidos (água e outras substâncias), o que, consequentemente, aumenta a eliminação de sódio do nosso organismo. Isso, por sua vez, faz com que também diminua a quantidade de fluidos nos nossos vasos sanguíneos, diminuindo também a pressão arterial.

 

Falta mencionar ainda os benefícios para a alma que uma boa erva-mate traz. A propósito, em 1858, o médico Roberto Avé-Lallemant escreveu assim em sua obra “Viagem pelo Paraná”:

 

“É o mate a saudação da chegada, o símbolo da hospitalidade, o sinal da reconciliação. Tudo o que em nossa civilização se compreende como amor, amizade, estima e sacrifício, tudo o que é elevado e bom impulso da alma humana, do coração, tudo está entretecido e entrelaçado com o ato de preparar o mate, servi-lo e tomá-lo em comum”.

 

É com estas palavras inspiradoras que fechamos a nossa homenagem à erva-mate. E você, já tomou um chimas hoje?

 

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Até o próximo post!

Roder Cypriano

Mateando

 

Matear, gervear, chimarrear, amarguear, verdear, apertar um mate ou simplesmente tomar um amargo. Se os limites da linguagem são os limites do nosso mundo, as inúmeras maneiras de se referir ao simples ato de apreciar um bom e velho chimarrão testemunham o amor infindo de um povo por uma bebida.  

Para um sulista, poucas memórias serão tão afetuosas quanto os momentos de convivência aos fins de tarde embalados pelas conversas à volta de uma boa cuia. Além disso, trata-se de uma bebida que faz bem à saúde; ela é rica em vitaminas e minerais, perfeita para acelerar o metabolismo e faz bem para o coração. 

 

No dia 24 de abril, comemora-se o Dia do Chimarrão. A data foi pensada como uma forma de celebrar este que é um dos mais emblemáticos símbolos da nossa cultura.  Na Mateando, prestamos a nossa homenagem ao chimarrão, mostrando sete diferentes maneiras de preparar a bebida – uma para cada dia da semana. Desafiamos você a provar cada uma delas e a redescobrir jeitos de preparar o amargo!  

 

Vamos lá! Você vai precisar de uma colher ou espátula, da cuia, da bomba, da erva-mate (comum e peneirada) e de água quente a 70 ºC. Há uma receita em que também precisará de um prego grande.  

 

Vejamos a seguir as sete maneiras. 

 

#1 Chimarrão tradicional – segunda-feira 

Modo de preparo: 

  1. Coloque uma colher de erva-mate no fundo da cuia, para dar sabor.
  2. Adicione água quente (a aproximadamente 70ºC) até o pescoço da cuia.
  3. Coloque a bomba dentro da cuia e posicione.
  4. Cubra a cuia com 2/3 de erva-mate.
  5. Espere 5 minutos antes de beber para dar tempo de a erva inchar. Temos aí o chimarrão tradicional.

 

#2 Chimarrão invertido – terça-feira 

Modo de preparo: 

  1. Coloque uma colher de erva-mate no fundo da cuia, para dar sabor.
  2. Adicione água quente (a aproximadamente 70ºC) até o pescoço da cuia.
  3. Coloque a bomba dentro da cuia e posicione.
  4. Cubra toda a abertura da cuia com erva-mate.
  5. Com auxílio de uma colher, empurre a erva-mate, pressionando suavemente.
  6. Do lado oposto da bomba, puxe a erva em direção ao centro, criando um espaço.
  7. Umedeça essa abertura e empurre a erva para dentro, até alcançar a água no fundo da cuia. 
  8. Ajeite a erva-mate e pronto – é só saborear

 

#3 Chimarrão tapado – quarta-feira 

Modo de preparo: 

  1. Coloque uma colher de erva-mate no fundo da cuia.
  2. Adicione água quente até o pescoço da cuia.
  3. Coloque a bomba dentro da cuia e posicione-a.
  4. Cubra toda a abertura da cuia com a erva-mate.
  5. Com o auxílio de uma colher, firme a erva-mate sobre a água, pressionando suavemente.
  6. Faça um movimento circular com a bomba e umedeça a erva, estruturando a abertura para servir o mate. Pronto! Agora é só saborear.

 

#4 Chimarrão dos namorados – quinta-feira 

Modo de preparo: 

  1. Coloque uma colher de erva-mate no fundo da cuia.
  2. Adicione água quente até o pescoço.
  3. Coloque as duas bombas dentro da cuia e posicione-as uma de frente para a outra.
  4. Cubra toda a abertura da cuia com erva-mate.
  5. Com o auxílio de uma colher, pressione a erva-mate sobre a água, pressionando suavemente.
  6. No centro da cuia, entre as duas bombas, faça uma marca na erva-mate com aproximadamente 1 cm de largura e 1 cm de profundidade.
  7. Umedeça essa abertura com algumas gotas de água e empurre a erva para dentro, até alcançar a água no fundo da cuia.
  8. Pronto! É só saborear.

  

#5 Chimarrão apaixonado – sexta-feira 

Modo de preparo: 

  1. Coloque uma colher de erva-mate no fundo da cuia.
  2. Adicione água quente até o pescoço.
  3. Coloque a bomba dentro da cuia, posicionando-a.
  4. Cubra toda a abertura da cuia com erva-mate.
  5. Com auxílio de uma colher, afirme a erva-mate sobre a água, pressionando suavemente até emparelhar com as bordas da cuia.
  6. Cubra com o pó de erva-mate peneirada e alise a parte superior.
  7. Com auxílio de uma colher, desenhe um coração na superfície da erva.
  8. Coloque o pó da erva-mate peneirada dentro desse desenho e vá modelando o coração.
  9. Ao lado da bomba, faça uma marca na erva-mate com aproximadamente 1 cm de largura x 1 cm de profundidade.
  10. Umedeça essa abertura com algumas gotas de água e empurre a erva para dentro até alcançar a água no fundo da cuia. 
  11. Peneire com um pouco de pó de erva-mate ao redor do coração. Pronto: temos aí um mate apaixonado!

  

#6 Chimarrão do prego – sábado 

Modo de preparo: 

  1. Coloque uma colher de erva-mate no fundo da cuia.
  2. Adicione água quente até o pescoço.
  3. Coloque a bomba dentro da cuia, posicionando-a.
  4. Cubra toda a abertura da cuia com erva-mate.
  5. Com auxílio de uma colher, pressione a erva-mate sobre a água, pressionando suavemente.
  6. Perto da borda da cuia, do lado oposto à bomba, faça uma marca na erva-mate com aproximadamente 1 cm de largura x 1 cm de profundidade.
  7. Umedeça essa abertura com algumas gotas de água e empurre a erva para dentro, até alcançar a água no fundo da cuia. 
  8. Coloque um prego (grande) como decoração. Quando alguém perguntar “Pra que o prego, hein?”, responda: “Mexa no prego, mas não mexa na bomba!”. Pronto, temos aí o mate do prego!

                                                             

#7 Chimarrão formigueiro – domingo 

Modo de Preparo: 

  1. Coloque uma colher de erva-mate no fundo da cuia.
  2. Adicione água quente até o pescoço.
  3. Coloque a bomba dentro da cuia, posicionando-a.
  4. Cubra toda a abertura da cuia com erva-mate.
  5. Com auxílio de uma colher, pressione a erva-mate sobre a água, pressionando suavemente.
  6. No centro da cuia, faça uma marca na erva-mate com aproximadamente 1 cm de largura x 1 cm de profundidade.
  7. Umedeça essa abertura com algumas gotas de água e empurre a erva para dentro, até alcançar a água no fundo da cuia. 
  8. Utilize um pouco mais de erva-mate para modelar uma espécie de formigueiro”, no tamanho que desejar. Está pronto o último tipo de chimarrão da semana!

  

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Equipe Mateando 

Foto exclusiva de Fagner Almeida 

O ritual da partilha é uma manifestação universal do ser humano, presente em diversas ocasiões e culturas. Seja ao dividir uma refeição ou ao ouvir o desabafo de um amigo, o ato de partilhar, firma um sentimento de comunhão e pertencimento entre as partes, como gesto próprio do afeto desinteressado. 

Para muitos sulistas, o chimarrão é essencialmente isso: um ritual de partilha. Sentar na frente de casa, ao fim de um dia cansativo de trabalho, reunindo a família à volta de uma cuia de chimarrão e de uma boa conversa – são quiçá poucos os que, no Sul, não guardam boas lembranças dessas ocasiões na memória. Se pensarmos que o chimarrão é apreciado não somente nos estados sulistas, mas também em outras regiões do país, como a Sudeste, a Centro-Oeste e até mesmo a Norte, podemos afirmar que esta é uma das bebidas mais democráticas e emblemáticas do nosso país.   

Não espanta que, com toda essa popularidade, o mate amargo esteja envolvo em uma miríade de lendas populares que foram passadas de geração em geração. Você sabia que na capital do estado de Rondônia, Porto Velho, há um bairro chamado Caiari”, nome que tem tudo a ver com a lenda da erva-mate? O post de hoje é precisamente dedicado a uma das mais curiosas histórias à volta do chimarrão. Continue a leitura e saiba mais em seguida! 

 

A lenda da ervamate   

Como surgiu a ervamate?   

Há muitos e muitos anos, uma tribo guarani procurava um novo lugar para assentar – um lugar onde a caça fosse farta e a terra, fértil.  Aos poucos, eles foram migrando, sem reparar que um dos anciães da tribo dormia tapado por couros em uma cabana. Quando esse velho acordou, ele se viu só, sem ninguém para cuidar dele. O velho então se levanta e põe-se a caminhar. Então, dá de caras com uma bela e jovem índia. Era Yari, sua filha mais nova, que não teve coragem de abandonar seu pai. Ficaram, então, os dois morando ali, pois o velho era de compleição demasiado frágil para uma viagem longa. 

Numa tarde de inverno, o velho, entretido no mato colhendo algumas frutas, assustou-se ao ver a folhagem próxima em movimento. Pensou que se tratava de uma onça, mas eis que surge um homem branco muito forte, vestido com roupas coloridas. 

O homem então se aproximou e disse: 

Venho de muito longe e há dias ando sem parar. Estou cansado e queria repousar um pouco. Poderia, por favor, arranjar-me uma rede e algo para comer? 

Sem hesitar, o velho índio aquiesceu, mesmo tendo comida escassa para ele e para a filha.  

Quando chegaram à cabana, o visitante foi apresentado a Yari. Ela, então, acendeu o fogo e preparou algo para o homem comer. Depois de jantarem, foram todos dormir. 

Ao amanhecer, viram que o homem branco havia caçado em agradecimento por toda a hospitalidade. 

Vocês merecem muito mais!, afirmou o homem. Tupã está preocupado com a saúde de vocês e por isto me enviou. Em gratidão por tanta bondade, eu vos concedo um presente. 

O estranho mostrou ao velho uma erva e explicou: 

Esta é a erva-mate. Plante-a e deixe que ela cresça, faça-a multiplicar-se. Você deve arrancar-lhe as folhas, fervê-las e tomar como chá. Suas forças se renovarão e você poderá voltar a caçar e fazer o que quiser.   

Em seguida, dirigindo-se a Yari, disse: 

Por ser tão boa filha, a partir deste momento você passará a ser conhecida como Caá-Yari, a deusa protetora dos ervais. Cuidará para que o mate jamais deixe de existir e fará com que os outros o conheçam e bebam a fim de serem fortes e felizes. 

Muitos anos se passaram, até que, em uma tribo próxima dali, após uma celebração regada a bebida alcoólica, dois jovens índios a começaram a discutir e a brigar. Eram Piraúna e Jaguaretê. No furor da briga, Jaguaretê empunha um tacape e mata Piraúna, ao que é então detido e amarrado ao poste das torturas. Pelas leis da tribo, os parentes do morto poderiam executar o assassino. Trouxeram imediatamente o pai de Piraúna para que ordenasse a execução. Contudo, o velho, em um ato de clemência, resolve poupar Jaguaretê, apenas expulsando-o da tribo e jogando-os nos braços de Anhangá, o espírito mau da mata.  

Passadas muitas décadas, alguns índios daquela mesma tribo aventuravam-se na mata fechada em busca de caça. Eis que encontram uma cabana e, aproximando-se com cuidado, encontram um homem muito forte e sorridente. Muito embora seus cabelos estivessem totalmente brancos, sua fisionomia era de um jovem. O homem ofereceu-lhes, então, uma bebida desconhecida e identificou-se então como sendo Jaguaretê. Era o membro expulso da tribo e a bebida era o mate.   

O homem contou que, quando fora abandonado à sua sorte na mata, muito vagou; exausto e cheio de remorso, a certa altura jogou-se ao chão e pediu para morrer. Acordou apenas com a visão de uma índia de rara beleza que, se apiedando dele, lhe disse: 

Meu nome é Caá-Yari e sou a deusa das ervas. Tenho pena de você, pois está fraco e debilitado. Eis aqui está bebida, que o deixará forte e ajudará na sua recuperação.  

Ele levantou-se e foi levado até uma estranha planta. 

Esta é a erva-mate, disse Yari. Cultive-a e a faça multiplicar. Depois prepare uma infusão com suas folhas e beba o chá. Seu corpo permanecerá forte e sua mente clara por muitos anos. Não deixe de transmitir a quem encontrar o que aprendeu sobre mate. 

Jaguaretê ofereceu a erva aos seus outrora companheiros de tribos.  Esses índios voltaram e contaram aos outros o que haviam ouvido. Toda a tribo adotou o costume de beber da verde erva, amarga e gostosa, que dava força e possibilitava o convívio amigo, transformando mesmo as horas mais tristonhas e solitárias. O mate foi plantado e multiplicou-se; a tradição foi se espalhando e o uso chegou até nós. 

 

O nome do bairro portovelhense que citamos no início, Caiari, resulta do aportuguesamento de Caá-Yaríi”, a deusa da erva mate.  Conhecer lendas como esta que acabamos de apresentar é tomar conhecimento de parte da nossa cultura e da nossa história, como forma de um testemunho vivo do encanto que o chimarrão causa em todo um povo.  

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Foto exclusiva de Fagner Almeida