Traje da prenda: para fazer bonito

“Rainha do pampa, / tens na divina estampa / Um quê de nobre e altivo. / És perfume, és lenitivo / Que nos encanta e suaviza / E num minuto escraviza / O índio mais primitivo!. Assim homenageou Jayme Caetano Braun a mulher gaúcha, a quem também chamou de “pampeana sereia” e “prenda bravia”.  

 

A palavra prenda”, hoje tão comumente utilizada no vocabulário tradicional gaúcho, é muito provável que tenha sido trazida ao Rio Grande do Sul pelos portugueses dos Açores, no início do séc. XX. Nesse arquipélago lusitano, existia uma cantiga de tirana com o seguinte refrão:Tirana, atira, tirana, / Vem a mim, tira-me a vida: / A prenda que eu mais amava / Já de mim foi suspendida. A designação teria sido aos poucos incorporada ao vocabulário local, evocando os sentidos de dádiva, presente, joia preciosa, algo que agrada e alegra alguém. O termo faz referência, portanto, a um conjunto de características comumente associadas à mulher, seja em relação aos traços de carácter, seja na própria forma de vestir. 

 

É que, como vimos no último post, no contexto das tradições gaúchas, a indumentária é uma forma de expressão da cultura do Rio Grande do Sul, refletindo o modo de vida de todo um povo ao longo dos tempos. Em reconhecimento a essa importância, os trajes tradicionais rio-grandenses são mesmo objeto de uma lei estadual, datada de 1989, que oficializa como traje de honra e de uso preferencial a indumentária denominada de “pilcha gaúcha” ou apenas “pilcha”. 

 

O post de hoje é precisamente dedicado ao tópico das vestimentas tradicionais de uma “pampeana sereia”. Nele, mostraremos tudo o que é preciso saber para quem quer fazer bonito no CTG com o traje da prenda, tudo de acordo com os ditames do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG). Continue a leitura e fique por dentro! 

 

Primeiro, algumas dicas importantes 

 

– Aplicam-se à prenda as mesmas regras gerais que referimos para o peão no nosso último post – não deixe de conferir esse artigo na íntegra clicando aqui. Assim, é importante usar o bom senso e respeitar as identidades de cada época, atentando para a mensagem proposta pelo vestuário. É oportuno relembrar que, historicamente, a indumentária gaúcha pode ser dividida em quatro fases: Chiripá primitivo (1730-1820), Braga (1730-1820), Chiripá farroupilha (1820-1865) e Bombacha (1865 até dias atuais). Itens de diferentes épocas não devem ser misturados. Além disso, é necessário pilchar-se conforme o bolso manda; pilchar-se conforme o clima manda; e pilchar-se conforme o ambiente ao qual se vai. 

 

– Nas apresentações artísticas, o traje feminino deve representar a mesma classe social e a mesma época retratada na indumentária do seu par, o peão. 

 

– Os cabelos da prenda podem estar soltos, presos, semipresos ou em tranças. Para prendas adultas e veteranas, é permitido também o coque. São admitidos os enfeites com flores naturais ou artificiais e pequenos passadores, mas itens como os brilhos, as purpurinas e as peças de plástico são desencorajados.  

 

– A maquiagem deve ser discreta, de acordo com a idade e o momento social. 

 

– As joias também devem ser discretas e estar de acordo com a idade, a classe social e o momento histórico. São permitidas pedras discretas e pérolas nas cores nas cores branco, rosado, creme e champanhe. 

 

Como deve ser a pilcha da prenda 

 

Basicamente, há três tipos de pilchas: a pilcha para atividades artísticas e sociais; a pilcha campeira; e a pilcha para a prática de esportes. Por ser a forma mais comum e importante, o nosso foco será a pilcha para atividades artísticas e sociais. Os itens da pilcha feminina adulta são: saia e blusa ou bata, saia e casaquinho, vestido, bombachinha e meia e sapatos. 

 

A seguir, considerando as normativas do MTG, destacamos algumas das principais características a serem respeitadas pela prenda adulta ao escolher os itens mais importantes da pilcha. Vejamos: 

 

Saia e blusa ou bata / saia e casaquinho 

– A saia deve ser nos modelos godê ou meio-godê; a barra deve estar na altura do peito do pe. 

– A blusa ou bata deve ser de mangas longas, três quartos ou até o cotovelo. Evite o uso dos modelos “boca de sino” ou “morcego”. O decote deve ser pequeno e discreto, sem expor os ombros e os seios, podendo ter gola ou não. 

– O casaquinho deve ser de mangas longas; nada dos modelos “boca de sino” ou “morcego”. A gola deve ser pequena e abotoada na frente. 

– Se usar bordados e pinturas, opte pelos discretos. Evite enfeites dourados, prateados, com pinturas a óleo ou purpurinas. 

– As cores seguem a mesma instrução: que sejam discretas e harmoniosas. Assim, devem ser evitadas as berrantes e fosforescentes.  

 

Vestido 

–  O modelo do vestido deve obedecer às seguintes regras: deve ser inteiro e cortado na cintura ou de cadeirão, ou ainda corte princesa com barra da saia no peito do pé, com corte godê, meio-godê, franzido, pregueado, com ou sem babados. 

– As mangas devem ser longas, três quartos ou até o cotovelo, admitindo-se pequenos babados nos punhos. Mais uma vez, não usar mangas “boca de sino” ou “morcego”.  

– O decote deve ser pequeno e discreto, sem expor os ombros e os seios  

– Os enfeites permitidos são: de rendas, bordados, fitas, passa-fitas, gregas, viés, trancelim, crochê, nervuras, plisses e favos. A pintura miúda é também permitida, desde que com tintas para tecidos. A prenda deve evitar usar pérolas e pedrarias, bem como os dourados ou prateados e pintura a óleo ou purpurinas. 

– Na escolha do tecido, prefira os lisos ou aqueles com estampas miúdas e delicadas (flores listras, petit-poa e xadrez delicado e discreto). Podem ser usados tecidos de microfibra, crepes e oxford. Por outro lado, não serão encorajados os tecidos brilhosos, fosforescentes, transparentes, slinck, lurex, rendão e similares. 

As cores, como sempre devem ser discretas. Não se deve usar preto e devem-se também evitar as cores das bandeiras do Brasil e do Rio Grande. 

 

 Bombachinha 

– Deve ser de tecido branco, abaixo do joelho, com enfeites de rendas discretas. O comprimento deve ser sempre mais curto que o do vestido da prenda. 

 

Meias 

– Nas cores branca ou bege, apenas. O comprimento deve ser longo o suficiente de modo a não permitir a nudez das pernas 

 

Sapatos e botinhas 

– Nas cores preta, marrom e variantes e bege, com um salto de, no máximo, 5 centímetros. Prefira o modelo com tira sobre o peito do pé, que abotoe do lado de fora. 

– Não são encorajados os sapatos abertos e as sandálias. 

 

Com essas dicas, garantimos: toda prenda bravia vai fazer bonito! Por hoje, é tudo. Para acompanhar todos os nossos conteúdos e continuar a saber mais sobre a nossa cultura, assine a nossa Newsletter agora mesmo. Siga também as nossas redes sociais agora mesmo – estamos no Facebook e no Instagram. 

 

Equipe Mateando.