Chimango ou Maragato? Diz-me que lenço usas e dir-te-ei quem és! Pelo menos, lá pelo final do séc. XIX era assim: o lenço usado nas plagas rio-grandenses servia para distinguir duas fações políticas com ideias opostas. Cada um desses grupos defendia formas diferentes de governar o Sul do país no contexto pós-independência de Portugal, o que acabou dando origem à famosa Revolução Federalista (1893-1895), uma luta para conquistar maior autonomia para o Rio Grande do Sul em relação à recém-proclamada República brasileira.
Nessa época da Revolução Federalista, os Chimangos, que apoiavam o governo central, usavam o lenço braço, e os Maragatos, contrários à política exercida pelo governo federal, exibiam o lenço vermelho. Uma terceira cor era também utilizada: o preto, que indicava uma pessoa que passava por um período de luto.
Contudo, é importante referir que muito antes do século XIX essa peça indumentária já tinha tradição em terras gaúchas. Na época das missões jesuíticas, os tecidos foram introduzidos na região e usados na fabricação de roupas, substituindo progressivamente os couros usados pelos índios. Com algumas tiras que sobravam da costura das peças essenciais, as pessoas prendiam os cabelos, afastando-os da região dos olhos, para que não atrapalhassem as caçadas e outras atividades. Alguns ainda usavam os cabelos puxados para trás, amarrado por um pedaço de tecido. Essa faixa na cabeça era denominada de “vincha”.
Com o passar do tempo e o início do corte dos cabelos, essa moda deixou de ter utilidade. O pedaço de pano desceu, então, da cabeça para o pescoço e foi se popularizando progressivamente. Portanto, o lenço não surgiu como um adorno, mas, sim, como uma forma de dar serventia à vincha.
Hoje, já felizmente em tempos de paz, a peça continua a estar presente na pilcha, a tradicional vestimenta do gaúcho, ocupando um lugar de prestígio e de destaque, de acordo com as regras instituídas pelo Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG). Novas cores ganharam lugar para além do branco e do vermelho e o nó dado de diferentes maneiras ganhou diferentes simbologias.
Para você que não quer fazer feio na hora de arrematar a pilcha com um toque de capricho, reunimos neste post tudo o que você precisa saber para acertar na hora de escolher o lenço e o nó da sua preferência. Continue a leitura e fiquei por dentro de tudo!
Tudo o que você precisa saber sobre o lenço
Segundo o MTG, as cores permitidas para os lenços feminino e masculino são vermelho, branco, azul, verde, amarelo, carijó, marrom e cinza. Normalmente, os lenços para adultos têm até um metro quadrado. É sempre aconselhado usar o lenço inteiro, embora muitos optem por cortá-lo ao meio, para que não fique delgado demais. Contudo, há que se ter cuidado com essa prática para que a peça não seja confundida com uma tira ou uma fita, o que não é reconhecido pelo MTG.
Os pacholas devem ter especial atenção ao tamanho dos nós, respeitando a medida máximo de 25cm a partir deste; se optar pelo uso do passador de lenço, a medida pode ser até 30 cm a partir deste. Os passadores são permitidos apenas nos materiais à base de metal, couro ou osso.
Abaixo, vejamos em detalhe os principais tipos de nós.
– Republicano
Também chamado de “nó farroupilha” ou “crucifixo”, é usado em lenços de cores vermelha, colorada, verde, preta e preto-branca. No centro, aparece o nó farroupilha e dos lados escapam dois braços, como de uma cruz – daí também o nome “crucifixo”. Uma vez que este é considerado por muitos um dos mais belos tipos de nós gaúchos – e também um dos mais difíceis de fazer, abaixo segue a descrição passo a passo para ele:
– Enrole o lenço e coloque-o à volta do pescoço;
– Pegue uma das extremidades e faça um movimento como quem vai dar um nó, mas deixando espaço livre;
– Pegue a outra extremidade e passe-a por dentro desse espaço;
– Com essa mesma extremidade, faça o mesmo movimento do lado oposto, como quem vai completar um novo nó;
– Pegue as duas partes dos nós formados e cruze-os, puxando as extremidades.
– Faça os ajustes necessários e, pronto! eis o nó farroupilha.
– Segundo simples ou à moda Chimango
Este nó também pode ser dado em lenços nas cores: azul-claro, azul-escuro, verde, amarelo, branco, preto, preto-branco, verde-claro, bege, marrom, vermelho-branco, bicolor e multicor.
– Quatro cantos, rapadura ou à moda Maragato
Aceita-se este nó também em lenços vermelhos, colorados, pretos e preto-brancos.
– Pachola
Possui duas posições, destro e canhoto, identificando, assim, o peão que o usa. Pode ser usado em lenços de todas as cores, exceto em preto e preto e branco.
– Namorado
Possui três posições dependendo de quanto os nós são afastados. São elas: apaixonado, se o nó estiver apertado; querendão, se houver espaço entre os nós; e livre, se o espaço se alargar. Pode ser usado em lenços de todas as cores.
É importante referir que, muitas vezes por falta de conhecimento, os pacholas optam por usar lenços pequenos e com estampas coloridas, dando, de fato, a impressão de que estão usando echarpes. Muitas mulheres usam uma fita fina no pescoço ou mesmo envergam a peça na cabeça. Essas práticas não são corretas.
O MTG chama a atenção para o fato de que a pilcha não é uma “fantasia” repleta de itens sem significado. Cada componente da indumentária gaúcha tem uma razão de ser por força da tradição e da história, o que é preciso respeitar. Um lenço esvoaçando ao vento é mais do que peça de vestuário; é uma marca registrada da cultura de todo um povo, é “relíquia de um tempo, herança dos ancestrais”, conforme cantou o poeta Antônio Francisco de Paula. Assim, escolha o seu nó preferido e siga as nossas dicas que você irá fazer bonito.
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Fonte das imagens:
– https://bit.ly/2WZGkxY. Acesso em: 09 abr. 2019.
– https://bit.ly/2KnxuJi. Acesso em: 09 abr. 2019.
Foto exclusiva de FagnerAlmeida